🔹 “Chacina da Cohab em Passo Fundo: o que vai ao júri dos irmãos acusados de mandar matar três pessoas”

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 Na noite de 19 de maio de 2020, no bairro Cohab (Passo Fundo, RS), três pessoas da mesma família foram encontradas mortas por asfixia dentro de uma residência: Diênifer Pádia (26 anos), Alessandro dos Santos (35 anos) e Kétlyn Pádia dos Santos (15 anos). Havia outras crianças na casa — três filhas de Diênifer — que sobreviveram. Uma das crianças, de 6 anos, conseguiu sair da residência e pedir ajuda aos vizinhos, o que impulsionou a investigação.

A investigação da Polícia Civil do Rio Grande do Sul e a denúncia do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul (MP/RS) apontam que o alvo principal seria Diênifer, e as outras duas vítimas teriam sido assassinadas para “queima de arquivo

O crime teria sido motivado por ciúme e vingança: segundo a acusação, a ré Fernanda Rizzotto teria descoberto que seu marido — Eleandro Roso — mantinha um relacionamento extraconjugal com Diênifer, que inclusive teria gerado uma criança. A partir daí, teria sido articulado o plano de assassinato.

Já foram julgados e condenados três dos cinco indiciados: Eleandro Roso foi condenado a 69 anos e 6 meses de reclusão (reduzida para 60 anos e 8 meses em grau de recurso) em 2022. Outro acusado, Luciano Costa dos Santos (apelidado "Costinha"), foi condenado a 57 anos em 2024. Já a ré Monalisa Kich Anunciação foi absolvida.

Agora, estão sendo julgados os irmãos Fernanda Rizzotto e Claudiomir Rizzotto, apontados como mandantes desse massacre. O júri está marcado para os dias 13 e 14 de novembro de 2025, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS), Comarca de Passo Fundo.

O que a acusação vai levar ao júri



A acusação formada pelo MP/RS tem como principais linhas e provas:

Denúncia formal

  • A denúncia aponta que os irmãos Rizzotto são réus por triplo homicídio qualificado: motivo torpe, uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas, e mediante promessa ou pagamento de recompensa.
  • O crime teria sido cometido mediante asfixia mecânica, uso de “enforca-gatos” ou lacres plásticos, como apontaram os laudos periciais.
  • A acusação sustenta que Fernanda planejou o assassinato de Diênifer (alvo principal) ao descobrir a relação extraconjugal de seu marido. Alessandro e Kétlyn teriam sido mortos para eliminar testemunhas.

 Provas materiais e digitais

  • O MP destaca que o celular de Fernanda continha mais de 3.600 páginas de conversas que indicariam planejamento, indícios de confissão ou articulação do crime.
  • Investigação apontou que Claudiomir auxiliou na intermediação entre a irmã e os executores, contratando ou trazendo o executor.
  • Os laudos periciais apontam para o uso de recurso que dificultou a defesa das vítimas (invadiram a residência, renderam as vítimas) e o meio cruel (asfixia).

Cronologia e elementos circunstanciais

  • As vítimas foram encontradas mortas dentro da casa, na Rua Ernesto Ferron, bairro Cohab.
  • O fato ocorreu após descoberta de traição e motivação de vingança, apontando motivo torpe.
  • O fato de terem passado anos foragidos (os réus Fernanda e Claudiomir foram presos somente em 2024) reforça para a acusação o vínculo e a gravidade da conduta.

 O pedido de pena

  • Considerando os cinco réus, já houve condenações anteriores de 60 a 70 anos para os principais envolvidos, o que demonstra a expectativa de que a acusação pleiteie condenação pesada para os Rizzotto.

O que a defesa provavelmente vai levar ao júri



A defesa dos réus Fernanda e Claudiomir articula algumas linhas principais de argumentação:

 Alegações de falhas processuais

·         A defesa questiona a cadeia de custódia das provas, especialmente dos dados do celular, conversas, e demais materiais digitais, pedindo que sejam aferidas nulidades ou contestações de regularidade.

·         Podem questionar a prova indireta: embora existam indícios, poderiam argumentar que não há prova direta de que os réus contrataram ou ordenaram o assassinato ou que realizaram pessoalmente a mecânica do crime — ou seja, disputa de autoria ou coautoria.

·         Podem alegar cerceamento de defesa, vícios investigativos, ou que algum laudo possa ter fragilidades, visando criar dúvidas razoáveis.

Argumentos de dúvida razoável

·         A defesa provavelmente enfatizará que o padrão de prova necessário para condenação no júri exige certeza além da dúvida razoável, e que indícios, embora fortes, não possuem o grau de certeza para retirar essa dúvida.

·         Pode questionar a motivação tal como apresentada: embora haja alegação de traição e vingança, podem argumentar que falta comprovação direta de que os réus sabiam ou aprovaram todos os passos ou que executor atuou mediante pagamento definido por eles.

·         A defesa pode também questionar a localização, tempo, e responsabilidades: se a responsabilidade de Claudiomir seria apenas “intermediação”, pode alegar que ele não tinha ciência das consequências ou que foi manipulado.

Mitigação de pena (caso de condenação)

·         Em caso de condenação, a defesa talvez busque atenuantes ou circunstâncias favoráveis, como ausência de antecedentes, conduta posterior à prisão, colaboração com a Justiça ou circunstâncias pessoais que diminuam a gravidade para o réu específico.

·         Pode argumentar que o réu não foi executor direto, e separar sua conduta da dos executores, buscando amenizar a pena ou evitar regime fechado imediato.

 Impactos e repercussões do julgamento



·         O julgamento marca o quarto júri popular desse caso — ou seja, trata-se de um processo de longa duração que atraiu grande atenção regional. Para a comunidade de Passo Fundo e região é um caso de repercussão alto, dada a gravidade (triplo homicídio qualificado), o envolvimento de familiares, a demora no julgamento e a sensação de impunidade até agora.

·         O resultado pode influenciar em termos de memória social, de direitos das vítimas e possibilidade de sensação de justiça para a família sobrevivente. Por exemplo, a mãe de Diênifer faleceu poucos dias antes do júri — o que adiciona carga emocional ao processo.

·         Para o sistema de justiça, o caso evidencia o papel do júri popular, a necessidade de provas robustas, e o desafio de processos que se estendem por anos — a denúncia é de maio de 2020 e o julgamento de mandantes ocorre em novembro de 2025.

5. O que observar no dia-a-dia do júri

·         O julgamento está marcado para iniciar no dia 13 de novembro de 2025, às 9h, com previsão de durar até o dia 14.

·         Estão previstas oitivas de sete testemunhas: duas de acusação e cinco de defesa.

·         A entrada do público está permitida, mas com controle de lotação. Imprensa tem autorização, porém com restrição de captação de imagem dos jurados e do juiz.

·         O trânsito e a segurança no entorno do Fórum podem ter reforço policial e bloqueios temporários, por conta da repercussão.

6. Perguntas que o júri deve responder

·         Os irmãos Rizzotto realmente mandaram ou contrataram o crime? Ou seja, a autoria/participação deles foi comprovada além da dúvida razoável?

·         A motivação de vingança e traição (marido, extraconjugal) está comprovada?

·         A prova digital (celular com 3.600 páginas de conversas) e demais elementos periciais são válidos, confiáveis, e suficientes?

·         As três vítimas foram mortas conforme a denúncia (asfixia, recurso que dificultou defesa, pagamento ou promessa de recompensa) ou há espaço para contestação?


·         Em caso de condenação, qual será a dosimetria da pena baseada na conduta dos réus, participação, antecedentes, grau de execução, etc?

7. Possíveis desfechos e implicações

·         Condenação dos réus: reforça a sensação de justiça para as vítimas e comunidade; possibilidade de pena alta (décadas de reclusão) dado o padrão dos demais condenados.

·         Absolvição ou pena reduzida: pode gerar debate público sobre impunidade, fragilidade das provas ou dificuldades do sistema acusatório-defensivo.

·         Reflexões mais amplas: pode impulsionar discussões sobre violência doméstica, crimes passionais, homicídios múltiplos, atuação policial-forense e estrutura do júri popular no interior do RS.

8. Conclusão

O julgamento da chamada Chacina da Cohab, que será levado ao júri popular em Passo Fundo, representa um momento decisivo para esclarecer quem mandou e conduziu um crime brutal que chocou a região. A acusação reúne provas fortes, mas a defesa conta com elementos processuais de contestação que podem influenciar o veredicto. O resultado será importante não só para as vítimas e seus familiares, mas para o sistema de justo.

Fonte da matéria: GZH 


Editado por Jefferson Gauchão




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